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quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Pantanal

Na manhã do domingo passado deixei a cidade de Jardim em direção a Miranda para a minha primeira experiência pantaneira, marcada para acontecer na Fazenda San Francisco. Como a partir da cidade de Guia Lopes da Laguna começou a chover torrencialmente, ao chegar em Anastácio, cidade vizinha de Aquidauana, providenciei por telefone no cancelamento da reserva feita. Não havia como avistar animas no Pantanal sob aquela chuva forte. Mesmo assim, fui até Miranda, tirando o dia para descansar até a chuva dar trégua.
A maior planície alagável do planeta começava a fazer jus à definição, na medida em que simplesmente não parava de chover no Pantanal, que agora começava a se abastecer de água após o estio que habitualmente dura até dezembro.
À noite pensei em três cenários para o dia seguinte: tempo ensolarado, iria em direção a Corumbá para passear pela Transpantaneira Sul ou Estrada Parque Pantanal, que cruza o Pantanal Sul, cujo percurso vale a pena até o Rio Paraguai; com tempo nublado, tentaria a sorte com cautela nessa rodovia, que não teria ainda secado o suficiente diante das chuvas ininterruptas, já que os seus 120 quilômetros de terra com 87 pontes de madeira seriam arriscados para um carro baixo e pesado como o meu; e com tempo chuvoso desistiria por ora do Pantanal e rumaria para Campo Grande.
A segunda-feira amanheceu tão chuvosa quanto o dia anterior, mas assim mesmo a minha teimosia mesclada com a imensa curiosidade, além da proximidade do Pantanal, fizeram com que fosse tentar a sorte na Transpantaneira, ainda que para transitar por alguns poucos quilômetros de seu curso.
Na porção final da estrada de 100 quilômetros que separa a cidade de Miranda do início da Transpantaneira, parei no famoso Bar da Maria dos Jacarés. O local, um bolicho de beira de estrada que tem atrás de si uma área alagada, é mantido por uma velha senhora, que inclusive já apareceu na televisão, que tem um sem número de jacarés de estimação. Mediante módica gorjeta ela chama os répteis por meio de um berrante, que logo saem da água para comerem cabeças de peixe que ela joga para eles. Depois, a Dona Maria faz a sua apresentação chamando os jacarés por seu nomes – Tafarel, Felipão, Romário, Guerreira, etc – puxando os seus rabos e sentando nas costas dos “bichinhos”. Eu entrei na onda e também puxei o rabo do jacaré!
Chegando ao ponto inicial da Transpantaneira, no Buraco das Piranhas, consultei o Oficial da Polícia Ambiental que ali estava sobre as condições da rodovia. Ele disse que desaconselhava para o meu carro, mas se eu quisesse tentar... Teimoso, segui! Bom, era o verdadeiro atoleiro no Pantanal.
Antes da primeira ponte veio um caminhão na direção contrária e eu pedi que deixasse a parte central da estrada para mim. O caminhoneiro concordou, apenas pediu que eu andasse um pouco para trás, pois a saída do curso central da estrada naquele ponto para ele importaria em risco de virar o caminhão. Agi conforme o combinado e após a passagem olhei pelo retrovisor o caminhão desgovernado deslizando pela estrada. A coisa não estava fácil!
Segui até a primeira ponte para fazer o retorno na parte mais alta da rodovia e abandonar a aventura. Quase consegui fazer o retorno, quando o carro atolou. Com a ajuda de outro caminhoneiro que passava dei um jeito e segui de volta, tornando à Polícia para lavar as mãos e perguntar se a estrada paralela para Corumbá, asfaltada, seria interessante para a avistagem do Pantanal. O Oficial disse que nem tanto quanto a Transpantaneira.
Nisso começaram a chegar ali no Buraco das Piranhas caminhonetes que buscam turistas que descem dos ônibus para levá-los até as fazendas de ecoturismo da região. O policial sugeriu que eu fosse até as fazendas e deixasse o carro no posto policial. Fui apresentado ao proprietário de uma das fazendas que por ali passava, o Senhor Jaime Rodrigues Pinheiro, criador de gado da região, que insistiu que me hospedasse na sua propriedade, a Fazenda Santa Clara, situada na localidade de Passo do Lontra, Município de Corumbá.
Aceitei o convite, deixei o carro e fui levado de caminhonete para a fazenda junto com o proprietário.
Durante toda a minha permanência na fazenda fui tratado com a máxima dedicação, cortesia e competência pelo Senhor Jaime e por toda a sua equipe. As instalações da pousada são plenamente adequadas para a recepção confortável de turistas voltados ao ecoturismo numa sede de fazenda de criação de gado. Quartos com ar condicionado, pátio com catetos, araras e papagaios, além de árvores de serigüela, deliciosa fruta da região, compunham o cenário. O atendimento é familiar e amistoso, como há muito não se vê numa hotelaria cada vez mais impessoal. Os horários para os hóspedes, na sua maioria jovens estrangeiros, seguem os da lida da fazenda.
Os passeios que realizei foram: avistagem noturna de animais, de caminhão com foco de luz, oportunidade privilegiada para o contato com a natureza, com direito a estrelas a mais não poder e à audição de uma sinfonia de sapos; avistagem diurna de animais, conhecida como safári, ocasião na qual além de inúmeros animais no seu meio, vimos uma tradicional boiada passar pela Transpantaneira; e passeio de barco pelo Rio Abobral, que cruza a propriedade, revelando o que ainda faltava ver da riqueza da flora e da fauna do Pantanal.
Nessa parte da viagem descobri que os jacarés são seres extremamente dóceis e passivos. Percebi também com meus próprios olhos que a profissão de boiadeiro não é nada fácil, já que conduzir sobre burros, animais mais adequados ao ofício, mil cabeças de gado por estradas movimentadas de uma pastagem para outra, em razão do excesso de chuvas, consiste em atividade que requer extrema habilidade e conhecimento.
No final do meu penúltimo dia na fazenda, fui presenteado com um pôr-do-sol pantaneiro de dar inveja, com toda a beleza natural exuberante que a maravilhosa região oferece.
Meu agradecimento sincero à equipe da Fazenda Santa Clara, em especial ao Senhor Jaime pela extrema simpatia.
Deixei a fazenda no dia de hoje após dois dias de permanência. A saída foi dificultada pela chuva que voltou com toda força, tendo percorrido a Transpantaneira com muita dificuldade na caminhonete da propriedade, guiada pelo nosso anfitrião. Meu carro aguardava a salvo no posto policial. Rumei para Campo Grande.

Um comentário:

GUIDO disse...

Gostamos das fotos dos boiadeiros e dos jacarés. Dóceis??? A Rosalia adorou as paisagens.